relato sobre a ação que criou o Fanzine MST
Por Pablo Nabarrete
O senso comum diz que a ciência é ou deveria ser imparcial. Certamente, esse é um argumento muito difundido e consolidado no cotidiano. Um outro argumento, relacionado a este primeiro, é que na educação não pode haver ideologia e que isso seria doutrinação. E é muito curioso que universidades e professores sejam atacados por fazerem ciência e esses agressores não entendem que seu discurso é totalmente ideológico, no sentido de seguir uma visão de mundo politicamente orientada. O filósofo existencialista francês, Jean-Paul Sartre argumenta, no livro O que é literatura de 1947, que o prosador escolhe determinado modo de ação, que denomina “ação por desvendamento” (p. 20), o que implica os questionamentos sobre que aspectos do mundo se quer desvendar e que mudanças quer proporcionar ao mundo por meio deste desvendamento (BASTOS, 2020). O sociólogo argentino Eliseo Verón (1968) explica que a ideologia também faz parte do discurso científico. Se você gosta de determinado tema, isso envolve um posicionamento ideológico, pressupõe um nível de engajamento com este tema.
Feita essa breve introdução, posso afirmar como pesquisador e cidadão que: estudo o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) porque gosto do Movimento,
porque sou amigo, aliado e considero sua luta fundamental para uma sociedade mais justa. Voltando ao Eliseo Verón, isso não quer dizer que meus artigos científicos sobre o MST sejam ideológicos. Muito pelo contrário. Escrevo com base em critérios científicos, com teorias e métodos explicitados, o que neutraliza o “efeito ideológico” do discurso científico. Estudei o MST no Doutorado, fizemos com a AÊ!UFF, agência experimental de estudantes de Comunicação Social da UFF, campanha publicitária para o lançamento do Armazém do Campo no Rio de Janeiro, loja do Movimento que vende produtos da reforma agrária e, mais recentemente, contribuímos com a orientação da sua base em assentamentos e acampamentos, para os cuidados necessários contra a Covid-19, por meio de um zine. O MST, além de suas inestimáveis contribuições na luta por justiça social, é um movimento que cuida da saúde da sociedade. Não entendeu? Vamos esclarecer. O MST é um dos maiores produtores de alimentos saudáveis, orgânicos, sem uso de agrotóxico na América Latina. E com preço que cabe no bolso do trabalhador do campo e da cidade. É isso o que eles chamam de agroecologia e reforma agrária popular. Então, um movimento que preza tanto pela saúde da população brasileira, merece nossa humilde contribuição no cuidado com a saúde da sua gente.
Autor:
Pablo Nabarrete Bastos
Professor do Departamento de Comunicação Social, do Instituto de Artes e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense. Professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Mídia e Cotidiano (PPGMC-UFF). Doutor em Ciências da Comunicação, linha de pesquisa de Comunicação, Cultura e Cidadania, pela ECA-USP. Possui pós-doutorado em Estudos Culturais pelo Programa Avançado de Cultura Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordenador pedagógico do Laboratório de Investigação em Comunicação Comunitária e Publicidade Social (LACCOPS).
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