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Foto do escritorEquipe Laccops

Cor, CEP e movimentação: a periferia resiste em meio ao Estado Genocida

por Gelson Henrique e Rahzel Alec



Ágatha, Eduardo, João Pedro, Marcos Vinicius e Rafaela. O que esses nomes têm

em comum? Todos eram crianças, adolescentes e jovens pretos, que tiveram a sua

vida interrompida pelo terrorismo que é legitimado pelo Estado Brasileiro.

De acordo com o Atlas da Violência - IPEA, lançado no ano de 2016, no Brasil, há maior probabilidade de ser homicidado na juventude, onde os casos ocorrem majoritariamente na faixa de 21 anos de idade, jovens pretos e pardos possuem 147% mais de chances de serem assassinados, nesta idade em relação aos jovens não negros. Segundo o Mapa da Violência de 2014, que contabiliza as mortes de 2012, 30 mil jovens são assassinados por ano. Dentro dos seguimentos sociais sobre os jovens assassinados, percebe-se que 77% são negros. Ou seja, 23 MIL FAMÍLIAS NEGRAS SOFREM A PERDA DE UM JOVEM.



O que os números omitem


Dispor o nome das pessoas que foram vitimadas pelo Estado, e posteriormente desmembrar em dados, é importante para que reivindiquemos que os números não são apenas estatísticas, são vidas, sonhos e sorrisos. Me incomoda quando os pesquisadores “gente boa”, sistematizam a violência direcionada aos corpos negros brasileiros como um conglomerado de números, sem nome ou história e, assim, perpetuam a desumanização de uma população estruturalmente marginalizada.

Os racismos no Brasil, operam em diversas esferas: violam os direitos da população negra no que tange a área da saúde, da mobilidade urbana, da educação, esporte e lazer e em todas outras pastas. Ele é fragmentado articuladamente para consolidar um projeto de Estado - nação que, como denota o processo de colonização, é contra o povo preto desde a sua essência.

Quando analisamos os efeitos das políticas públicas nas periferias e favelas, podemos compreender como são articuladas para determinados grupos sociais. Se o sistema de transporte público não demonstra funcionalidade em periferias, por exemplo, esse é o modo como foi projetado ou para funcionar, pois está cumprindo o papel de sucateamento proposto para a população mais pobre, população essa que tem cor e CEP.



Cada movimentação importa



Quando pautamos sobre a violência contra os corpos negros, não estamos pautando apenas sobre as atrocidades durante o periodo escravocrata, e sim seus impactos na sociedade atual. Ainda hoje, a sociedade realiza a manutenção de um sistema que visa controlar e exterminar corpos negros de diversas formas. Um exemplo, é a quantidade e pessoas negras encarceradas, exterminadas e sem acesso à saúde, moradia e educação de qualidade. No Brasil há uma massa de jovens negras e negros, gritando “Basta!”.

Manifestando que, a movimentação da branquitude racista não será um impedimento para o levante da conscientização sobre questões raciais e periféricas. Durante o período pandêmico, diversas instituições oriundas de periferias e favelas de todo o Brasil articularam mecanismos para garantir a alimentação para a população periférica. A sistematização sobre os processos de garantia dos direitos básicos para a população periférica, em sua maioria negra, é um dever do Estado, demandado constitucionalmente e a falta da realização dessa demanda implica diretamente na sobrevivência de pessoas negras, durante a pandemia. Apesar da ausência/presença do Estado, vivemos.

Temos em nossas periferias e favelas, uma pluralidade e uma sabedoria que está fazendo a população mais violada historicamente, avançar. Ignorados constantemente pelas políticas públicas, discutimos nossos preceitos, construímos o cuidado comunitário e crescemos coletivamente. As portas não estão abertas, mas nós as queimamos, pois assim veem que estamos construindo caminhos muito diferentes dos que estão postos pela cultura colonial. Parafraseando Nilma Lino Gomes, estamos mostrando que o contrário de casa grande, é QUILOMBO! Somos resistência à colonialidade. Podemos caminhar com “passos curtos”, mas seguimos em frente, à luz dos nossos ancestrais.


Sobre os autores:


Gelson Henrique é Formando em Ciências Sociais pela UFRRJ, Idealizador do CIJoga e Conselheiro do UNICEF Brasil.


Rahzel Alec é estudante de Relações Públicas, na UERJ, ativista dos direitos da Criança, do Adolescente e da Juventude e oficineiro na Associação Youca Brasil



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