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Foto do escritorEquipe Laccops

Laccops Emergente contra Covid-19 : relatos da Providência

Por Lorena Campos, Letycia Nascimento e Tatiane Mendes



Que é o comum? Experiência partilhada através de cada um dos nossos dias, laço que se firma nas trocas que estabelecemos em nossos diversos modos de existência. O comum também é o compromisso com a coletividade, ingrediente fundamental que fomenta a solidariedade humana e assim a consolida a cidadania, como o direito a existir, relacionar-se e construir um tempo e espaço compartilhados. Em tempos de pandemia, o comum se multiplica em redes que vão além da proximidade física, mas no estabelecimento de redes fortalecidas pelas mídias e pela Comunicação como espaço político de disputas simbólicas, por narrativas múltiplas e representatividade. Quando nossas vidas atravessam outros e inesperados modos de ser e os fluxos de informação em ambientes digitais se tornam o modo fundamental de sobrevivência, é necessário pensar o lugar da Comunicação, dado o atravessamento definitivo que isola uma parcela da população, vulnerabilizando ainda mais a grande maioria de pessoas desassistidas por Estados cada vez mais violentos e excludentes.

Quais as saídas possíveis, para subverter tal lógica, frente a um cenário onde a ideia de ética como bem comum é atravessada e constituída pelos meios de comunicação e o espaço público se torna uma extensão da dimensão privada, potencializada por telas e dispositivos técnicos? E onde o cotidiano é ressignificado pelo acesso – ou a falta dele – que determina a condição de sobrevivência a serviços básicos, informações, alimentação, transporte, trabalho, segurança e proximidade – pautada no virtual – entre famílias?


Fanzine Provi contra a covid-19

Esse é nosso percurso, no coletivo de pessoas, ideias e vontade de mudar o mundo chamado LACCOPS, Laboratório de Investigação em Publicidade Social e Comunicação Comunitária vinculado à Universidade Federal Fluminense (UFF). Como ofício, unimos o pensar científico às ações práticas, que tenham como foco a transformação social e a busca pela autonomia de populações em situação de vulnerabilidade. Em um contexto mundial marcado por profundas transformações.

Desde o início da pandemia de coronavírus, de abril de 2020 até o presente momento, o LACCOPS vem consolidando ações que visam fortalecer os vínculos sociais a partir das campanhas digitais com foco na informação relativa à covid-19, bem como construir espaços plurais de reflexão e solidariedade. Assim foram criadas as campanhas para auxiliar a disseminação de informação no Morro da Providência, em parceria com movimentos sociais e tendo norte a Publicidade Social e Comunitária, nosso espaço de troca e de produção intensa, cotidiana e criativa, estrada em que não caminhamos sozinhos, mas em parceria com dois coletivos do Morro da Providência Favela Cineclube e Viaduto Literário. Dessa maneira nasceram as ações de Comunicação Comunitária para orientar moradores de favelas cariocas a prevenir e combater a disseminação descontrolada de Covid-19.

Os coletivos tem história na favela. No Morro da Providência, o projeto Viaduto Literário usa a literatura infantil para fortalecer vinculações sociais e acontece desde 2018. As atividades ocorrem semanalmente. Todos os sábados por três horas, crianças entre dois e treze anos de vários pontos da Favela da Providência se reúnem em uma pracinha, sob um viaduto e ali vivenciam, arte, cultura e afeto através de rodas de leitura, oficinas de desenho, pintura, música, teatro, além de contação de histórias. O outro projeto é O Favela Cineclube, que desde 2016 exibe filmes para adultos e crianças “que carregam valores do gueto e ressignificação do povo preto e pobre que vive nas favelas e periferias do mundo todo” (RAQUEL; LIMA,2020).

O objetivo da ação gerada com os coletivos era garantir que as informações sobre higiene, transporte, saúde e segurança chegassem à população das favelas, bem como cuidados para uso de máscaras e como lidar com pessoas contaminadas. Foram criadas peças digitais e um fanzine. A ação teve lugar em maio de 2020, quando o município do Rio de Janeiro contabilizava 3000 mortes por coronavírus em cerca de 39.000 casos confirmados. Há, de fato, uma realidade bem diversa nas favelas, que dobra o número dos casos com letalidade decorrentes do Covid-19 (VOZ DAS COMUNIDADES, 2020), cerca de 20%, em detrimento da média de 10% do município do Rio de Janeiro. Nesse cenário, onde há um constante atravessamento do Estado, na suspensão de direitos fundamentais de existência e quando os serviços básicos de saúde e segurança ainda são em menor número do que as incursões militarizadas quase diárias, a informação pode ser um indicador de sobrevivência, auxiliando a disseminar práticas e cuidados. As ações foram firmadas sob o princípio que sustenta o laboratório, da publicidade social como mecanismo que fortalece as causas em prol da autonomia de um público-alvo. (SALDANHA; BASTOS, 2019). Assim, há um empenho em valorizar a fortalecer os vínculos sociais da comunidade em prol da autonomia individual e coletiva do grupo,

Quando a Fatinha, fundadora do Favela Cineclube, nossa parceira e articuladora, trouxe a demanda de uma material de comunicação com potencial de circulação dentro do território da Providência, o contexto da COVID-19 era de escassez, tanto de informações quanto de conhecimento sobre o vírus e sobre como se proteger dele. O trabalho de pesquisa foi crucial, porque as fontes deveriam ser oficiais e confiáveis. Logo, a parte de editoração e criação da fanzine deveria trazer essas informações de forma compreensível para o grande público e de um jeito que gerasse identificação entre as personagens e as pessoas que teriam acesso a esse material. Durante as reuniões de pauta, também surgiu a discussão sobre os desdobramentos do contexto pandêmico, com instruções sobre como agir em caso de falecimento de pessoas próximas dentro de casa e sobre como denunciar e se proteger da violência de gênero em ambiente doméstico.

Um dos problemas da já citada escassez é que muitos veículos de mídia orientavam as pessoas a não comprarem as máscaras de farmácia. Isso poderia acarretar em uma falta de estoque, o que prejudicaria profissionais de saúde que estavam na linha de frente da batalha contra o Coronavírus e não estavam recebendo o material de proteção individual em suas respectivas unidades de saúde. Por esta razão, dado o contexto de emergência e a necessidade de proteção pessoal, pesquisamos um modelo simples de máscara caseira, com proteção de dupla camada e fácil de fazer - dispensando o uso de uma máquina de costura e a habilidade técnica prévia por parte de quem fizer a máscara. Hoje, com a maior oferta de máscaras, a informação permanece nas edições do fanzine por ser mais uma opção de segurança,6 para ajudar a conter a contaminação pelo vírus.


Referências:


ARTE e resistência na Providência: cinema e literatura. Edição de Junho do LACCOPS Blog. Disponível em: https://laccops.wixsite.com/laccops/post/viaduto-liter%C3%A1rio-arte-e-resist%C3%AAncia-na-provid%C3%AAncia Acesso em 08/08/2020


SALDANHA, Patricia. G.; BASTOS, P. N. . Publicidade Social de Interesse Público (PIP) e engajamento político, uma antítese à Publicidade de Utilidade Pública (PUP) governamental.. Eptic On-Line (UFS), v. 21, p. 25-42, 2019.


Sobre as autoras


Lorena Campos

publicitária e mestranda pelo PPGMC-UFF. além de membra do LACCOPS desde 2017, Integra o grupo de pesquisa ESC (Ética na Sociedade de Consumo) e Lab Dissemina.


Letycia Nascimento

Letycia Nascimento é mestre em Mídia e Cotidiano pela UFF e Jornalista pela UFRRJ. Pesquisa a área de comunicação cidadã e comunitária e suas interfaces com a ecologia e a etnomídia indígena.


Tatiane Mendes

Doutorado em Comunicação Social pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro.Mestre em Mídia e Cotidiano da UFF no PPGMC (Programa de Pós -Graduação em Mídia e Cotidiano), Coordenadora de Conteúdo digital do Laccops. Membro do Laboratório de Comunicação, Arte e Cidade(UERJ)

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