Na semana que antecedeu o Intercom comecei a entrar em contato, via WhatsApp, com alguns agentes locais de Belém com o objetivo de efetuar um levantamento de possíveis parceiros para serem atendidos na oficina de audiovisual que seria ministrada durante o evento.
Cheguei em Belém no sábado anterior ao evento, dia 31/08, às 2:30. Desde então, comecei um trabalho de campo visitando cada um dos agentes e seus respectivos projetos. Acredito que o trabalho de pesquisa e pré-produção seja fundamental para o desenvolvimento do trabalho. No próprio sábado fui até Augusto Correia, município que fica cerca de 250 km de Belém, para conhecer a Fazenda Bacuri, local no qual são produzidos os produtos Osaqui. Foi uma experiência incrível, conhecer a Dona Hortência e o trabalho que ela desenvolve, foi fantástico. Caminhei pela vasta propriedade, no meio da floresta preservada, com árvores cultivadas por mais de cinco décadas. Tive o privilégio de provar suco de Bacurí pela primeira vez. Comi jambo tirado direto do pé. Uma recepção inesquecível!
No domingo, conheci o Boá! Tomamos café-da-manhã juntos. Na sequência, visitei a Ilha do Combu para conhecer de perto o restaurante que é administrado pela família dele há três gerações. Após um delicioso almoço, com direito ao prato especial de charque com farofa de açaí, encontrei com Amanda, uma advogada que trabalha com compliance e que me indicou o Jardim das Oliveiras, um projeto que promove suporte educacional infantil e apoio assistencial às famílias das crianças.
Na manhã de segunda-feira tomei café-da-manhã com Mauro, um dos responsáveis pela Sorveteria Blaus (a visita na fábrica de sorvetes ocorreu no dia seguinte pela manhã). Em seguida fui para UFPA encontrar com a Mariana, uma das responsáveis pelo coletivo Ame o Tucunduba. A problemática envolvendo a bacia hidrográfica urbana em Belém segue como um assunto super delicado, pois o poder público parece não respeitar as famílias que vivem nas margens do rio. Pouco depois, a Graça, uma das responsáveis pelo Jardim das Oliveiras, me pegou de carro na UFPA e me levou para almoçar no espaço onde o trabalho é desenvolvido (lugar lindo, super acolhedor), mas que fica localizado no Bairro da Castanheira - segundo algumas informações, um dos bairros com maiores problemas sociais na região. Na parte da tarde fui até Ananindeua para conhecer pessoalmente a fábrica Da Cruz Chocolates. As explicações dadas pelo Flavio sobre o cacau e os processos artesanais de fabricação dos chocolates deles foi uma aula. Muito do que conversamos, inclusive, serviu de referência para proposta do conceito criativo do filme realizado posteriormente pelos alunos na oficina.
Ainda na segunda-feira, na parte da noite, fui comer Udon em uma barraquinha de rua administrada por Thiago Guarany, um chef de cozinha espetacular, amigo de minha esposa. Na verdade, foi a partir das sugestões dele que todo este processo começou. Não fora ele, o resultado da oficina teria sido completamente diferente. Enfim, ao saborear a deliciosa iguaria preparada em uma simples barraquinha de rua, encontrei com o Paulo, da Manioca. Conversamos bastante e alinhamos a participação da Manioca como uma experiência de Comunicação que ele ainda pretende aprimorar e desenvolver em seu negócio.
Na terça-feira pela manhã conheci a fábrica de sorvetes da Blaus, como mencionado anteriormente. Minha vontade era pular dentro dos potes de sorvete, cada um mais cremoso que o outro, impressionante. Na parte da tarde conheci, através da indicação da Hortência, o professor Marcos Santos, da URPA, que me levou para participar de uma reunião na Secretaria de Agricultura com uma das diretoras. Uma ótima oportunidade de contato com o poder público para apresentar o trabalho desenvolvido pelo LACCOPS e apresentar o projeto que seria desenvolvido durante a oficina de audiovisual com smartphone, no Intercom 2019. Em seguida terminei de montar todos os briefings que seriam apresentados aos alunos na oficina. Aprovei, via WhatsApp, cada um dos briefings com os respectivos agentes locais. Tudo alinhado para o primeiro dia de oficina.
Na quarta-feira, dia 04/09, houve a apresentação do desafio. Em princípio, todos os presentes abraçaram a ideia. Começou o processo de construção de roteiro, criação de grupo no WhatsApp com a presença dos agentes locais (três deles estiveram representados ao longo deste primeiro dia de oficina, participando presencialmente de todas as etapas) e aprovação das ideias.
Na quinta-feira, dia 05/09, todos os sete grupos fizeram a captação das imagens (todas com celular). Todas as instruções de captação foram compartilhadas, mas não estive presente em nenhum momento da produção das imagens. Entendo que o momento de tomada da imagem seja uma das principais etapas de criação e compreendo a importância de depositar confiança nos alunos para que eles possam se expressar e construir sem a interferência física do professor. Acredito que o refinamento do olhar seja um processo em contínua construção e que ao longo da trajetória todos nós temos a oportunidade e a responsabilidade de ampliarmos nossas referências, pois estas influenciam na maneira como produzimos novas imagens. Cabe ressaltar, ainda, que os suportes de câmera utilizados na oficina foram todos confeccionados com tubo de PVC, a partir de tutoriais disponíveis em canais do YouTube. Dois dos suportes foram feitos por ex-alunos da UFF, na disciplina de Produção Audiovisual I, no período de 2016.1, já os carrinhos foram projetados na semana anterior da viagem com auxílio do Felipe de Lima Silva.
A captação das imagens foi um verdadeiro desafio logístico. No meio do processo alguns alunos desistiram e, em princípio, tudo parecia que iria dar errado. Eu tinha apresentação de trabalho para realizar na parte da tarde, não podia abdicar da minha responsabilidade. Entretanto, foi marcante e comovente acompanhar outros participantes, alguns que sequer estavam inscritos oficialmente na oficina, abraçarem a responsabilidade de ir até o final e participar de produções além daquelas na qual estavam inicialmente envolvidos. Foi um processo intenso de ampla troca e muita aprendizagem. No final deste dia fiquei na biblioteca da UFPA editando com alguns alunos até às 22h (horário que o espaço fechou) e depois retornei para o hotel para seguir na edição e finalização dos filmes ao longo da madrugada (alguns problemas técnicos de formato, completamente inesperados, em dois dos filmes, mas que foram solucionados ao longo do processo). O último filme foi finalizado na sexta-feira cinco minutos antes do início oficial do segundo dia da oficina (prevista pelo Intercom para ser realizada na 4ªf, dia 04/09, e na 6ªf, dia 06/09, entre 14h e 16h).
Durante a exibição todos os clientes estiveram representados, (com exceção do Sorvete Blaus), bem como uma representante do poder público (Brenda Moraes, representante da Secretaria de Agricultura).
Cada detalhe deste trabalho foi sensacional, mas o mais incrível foi poder testemunhar o brilho no olhar de cada um dos envolvidos. No final da oficina ninguém queria ir embora da sala. Ficou um gostinho de quero mais, uma sensação de que ainda havia algo mais para acontecer. A finalização da oficina demonstrou a importância do engajamento, bem como a contundência e a potência de um trabalho realizado em coletivo. Reforçou, também, a convicção da importância de saber valorizar e enaltecer as soluções, ao invés de focar nas contrariedades e desperdiçar tempo.
O resultado final foram os vídeos que estão disponíveis na página do YouTube do LACCOPS. Curte lá! Inscreva-se no canal! Em breve será postado o making-of da oficina.
Guilherme Lima
Coordenador Laccops
Professor do Curso de Publicidade do Departamento de Comunicação Social da UFF
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