Por Andréa Hecksher , Rosangela de Jesus Fernandes e Beatriz Paiva
A arte oleira faz parte da história de Itaboraí há mais de 400 anos. Se no passado essa tradicional técnica era uma das bases da economia local, hoje se resume apenas a economia familiar de autossustentação. Isso prova que, em algum momento, o ramo da cerâmica artesanal pertencente à cidade foi desvalorizado. Como consequência, os cidadãos perderam o vínculo com este tipo de arte e não a reconhecem como parte da autoestima da região. Como moradora de Itaboraí-RJ e estudante do curso de Publicidade e Propaganda na Universidade Federal Fluminense (de 2015 a 2018), o encantamento pela arte oleira surgiu quando enxerguei a possibilidade de trazer aquele belo trabalho com barro para um simples vídeo gravado pelo celular.
Na ocasião, estava em uma olaria comprando utensílios para minha casa e, naquele mesmo ambiente, um artesão estava modelando uma nova peça. Ao ver o barro tomar forma e se transformar em uma peça decorativa, fiquei encantada e perguntei ao artesão se eu poderia registrar aquele momento. Para minha surpresa, ele se emocionou com o meu interesse e disse que o seu trabalho não era mais tão valorizado quanto antes.
A partir daquele momento, decidi que iria buscar, junta à Universidade, uma forma de trazer soluções de valorização e visibilidade para a classe oleira de Itaboraí. Nesse sentido, nasceu, em dezembro de 2018, o meu Trabalho de Conclusão de Curso, um planejamento de campanha focado na valorização da cerâmica artesanal.
Ao imergir nos assuntos ligados aos oleiros de Itaboraí e criar laços de relacionamento com integrantes da classe, percebi uma grande desunião do grupo. Sem lideranças e sem entidades apoiadoras, grande parte dos artesãos trabalhava de forma autônoma e não tinha alinhamento em questões como custo de peças e revenda.
Inegavelmente, com a desunião do grupo, emergiam oportunidades para os compradores. Sem uma tabela de preços equilibrada e compartilhada entre os oleiros, os revendedores – também conhecidos como atravessadores – começaram a precificar as peças e sufocar os negócios, gerando uma concorrência por custos mais baixos.
Após a apresentação do trabalho acadêmico, que apontava importantes questões sobre o tema, surgiu a oportunidade de elaborar e apresentar um projeto – entre a ONG Criar Brasil e o Laccops, da UFF – para o Edital do Programa Luz Solidária da Enel – Projetos de Sustentabilidade em Distribuição. Como grande diferencial, o Projeto Moldando o Futuro apresenta, através de oficinas, técnicas e estratégias que potencializam as vendas e a valorização da arte oleira. Tudo isso, por meio do empoderamento desses artesãos frente às ferramentas de Comunicação. Nesse processo, são trazidos conteúdos relacionados à fotografia e filmagem com celular, redação publicitária, redes sociais, entre outros.
Com a chegada da pandemia de Covid-19, o Projeto passou por adaptações e está sendo ajustado para o ambiente virtual. Tanto a ONG Criar Brasil e o Laccops, quanto a apoiadora do projeto, estão comprometidos em criar um aprendizado de qualidade, garantindo que a classe oleira receba o conteúdo necessário para realizar mudanças efetivas no que tange à valorização e venda da cerâmica artesanal de Itaboraí.
O projeto Moldando o Futuro nasce de uma feliz parceria entre a ONG Criar Brasil e o Laccops, da UFF. O Criar tem 26 anos de atuação pela comunicação democrática e cidadã. Realizar parceiras é nossa força para seguir diante de tantas dificuldades que as instituições enfrentam num país repleto de incertezas. Nosso histórico de atuação ao lado de emissoras de rádio e TV comunitárias e públicas, de comunicadores populares e lideranças de movimentos sociais teve um feliz encontro com o Laboratório de Investigação em Comunicação Comunitária e Publicidade Social, vinculado Programa de Pós-graduação em Mídia e Cotidiano, da UFF. Temos em comum a determinação de construir a comunicação participativa, respeitando o saber popular e compartilhando experiências. O Projeto apresentado e vencedor do Edital do Programa Luz Solidária da Enel – Projetos de Sustentabilidade em Distribuição - traz uma importante vinculação com os oleiros de Itaboraí, na região metropolitana do Rio de Janeiro. A proposta é de desenvolver e implementar as oficinas de qualificação dos oleiros em técnicas e estratégias em comunicação de maneira colaborativa e coletiva. A pandemia impôs a suspensão temporária do projeto, que previa encontros presenciais, mas diante da demora para que a situação se normalize, nossas equipes reestruturaram a proposta. Na adequação, planejamos oficinas virtuais que serão realizadas buscando manter a proposta participativa, envolvendo familiares dos artesãos e a comunidade local.
Na primeira reunião com o grupo do LACCOPS, no final do ano de 2019, conheci o projeto Moldando o Futuro, fiquei encantada com ideia e o planejamento para este projeto de extensão. Como apreciadora da arte oleira, entrei no grupo trazendo uma proposta de marca. A marca é inspirada no próprio trabalho dos artesãos e no nome do projeto; representa a entrega, o cuidado, a paixão e a emoção com que são concebidas as peças nas olarias. Hoje, como coordenadora do Núcleo de Direção de Arte LACCOPS, assim como já tenho feito com os alunos em outros projetos, terei a honra de compartilhar minha experiência com esses artistas da modelagem que encantam e preenchem o vazio de nossas casas com suas formas. ( Andréa Hecksher, Coordenadora do Núcleo de Direção de Arte do LACCOPS)
A intenção é de mapear a circulação de informação na comunidade (física e virtualmente), compartilhar técnicas de fotografia, vídeo, redes sociais e criar conjuntamente um planejamento de campanha publicitária. O objetivo é de valorização da produção local e ampliação de possibilidades de comercialização dos produtos, contribuindo para a sustentabilidade dos oleiros e suas famílias, e também aumento a autoestima dos artistas do barro.
Sobre as autoras:
Beatriz Paiva de Almeida
Publicitária formada na Universidade Federal Fluminense,
integrante do LACCOPS e agente local do Projeto Moldando o Futuro.
Rosangela Fernandes
Coordenadora Criar Brasil
Andréa Hecksher
Professora do curso de Comunicação/Publicidade da UFF. Pesquisadora na área de análise de Imagem: Comunicação Visual e repercussão em redes sociais. Coordenadora do Núcleo de Direção de Arte (ou Diretora de arte) do Laccops. Mestrado e doutorado em Sistemas Computacionais pela COPPE/UFRJ. Graduação em Programação Visual pela UFRJ.
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