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Foto do escritorEquipe Laccops

Violências e vulnerabilidades: políticas transvestigeneres em tempos de pandemia.

por Thi. Gresa (José Pedro Almeida).

Antes de adentrarmos propriamente no tema da violência contra pessoas transvestigeneres no período de isolamento causado pela pandemia de COVID-19, temos de apontar duas questões que são extremamente importantes no que baliza as nossas vivências, experiências e questões com as violências. Primeiramente, as violências, as quais nos referimos, acontecem e são acionadas em diversas esferas. Podem ser violências emocionais, psíquicas, apagamentos sociais e também a violência física, todas elas são substanciais no que diz respeito a refletir sobre os espaços que pessoas transvestigeneres ocupam.

A segunda questão importante é dizer que, todas essas violências citadas, e tantas outras que poderíamos citar resultam em uma que acomete todas as pessoas dissidentes de gênero, a vulnerabilidade. Assim, diante essas duas questões, é importante falarmos algo que incansavelmente vem sendo repetido em discursos de pessoas transvestigeneres, e eu, enquanto pessoa não binárie,

Também me coloco nesse espaço de debate sobre vulnerabilidades e violências.

O Brasil, é o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ e pessoas transvestigeneres, além

disso, no nosso país, a nossa comunidade está na maioria das vezes colocada a margem da sociedade, ocupados espaços e empregos desumanizadores (na grande maioria das vezes estão na prostituição ou nos serviços estéticos como salões de cabeleireiros), e vivem em situações de extremo abandono emocional e afetivo.

A pandemia e o isolamento social que vem acontecendo desde o começo do ano (Março/2020), dilataram os abismos aos quais as pessoas transvestigeneres são lançadas. A ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transsexuais) vem divulgando dossiês e notas públicas que buscam ampliar o debate sobre as violências contra pessoas LGBTQIA+ durante a pandemia.

É certo que a violência contra população transvestigenere não começou com a pandemia, nem cessará após o “fim”, e tendo em vista isso, entendemos que o aumento da violência contra as pessoas dissidentes faz parte de um projeto de uma sociedade heterocisnormativa que busca incansavelmente excluir e de forma violenta acabar com qualquer possibilidade de dissidência.

Aliás, a dissidência, dentro desse projeto que além de normativo é ultra-liberal tende a concentrar a hegemonia das possibilidades de existências dentro da redoma que busca e sempre buscou preservar os espaços de privilégio daqueles que se mantém dentro do espectro socialmente aceito.

Durante a pandemia de COVID-19, poderíamos falar e discorrer sobre o aumento da violência que, segundo a ANTRA disparou em 70% durante o período de isolamento. Porém, quero apontar algumas ações que foram violentas e que se tivessem sido repensadas poderiam ter diminuído os abismos causados pelas negligências e exclusão de pessoas transvestigeneres dos espaços de diálogo, poder e acesso a recursos para existência.

O mais cruel deles é sobre a distribuição de renda, que veio junto com um auxílio emergencial – e aqui é importante reconhecer que o atual governo federal só desprendeu tal beneficio/recurso depois de um grande movimento de ações de partidos de oposição à atual gestão e ainda ações populares – que deveria vir a contemplar minorias, dentre elas, a comunidade LGBTQIA+ e transvestigenere que viesse a vislumbrar uma diminuição dos abismos sociais, e que viesse a humanizar as existências dissidentes.

Aqui, pra encerrar, sempre que me referi as violências – no plural, porque elas são múltiplas e atingem as pessoas de diversas formas e em diversas direções – digo sobre o processo de desumanização, então, que reflitamos sempre sobre as possibilidades e os caminhos que nos levem a uma transição que permita um governo que não reconhece, e mais do que isso que se coloca como desumanizador depessoas/existências dissidentes, além de se colocar veementemente como uma gestão negacionista frente ao vírus e a pandemia que já matou milhares de pessoas no mundo, jamais reconhecerá a transfobia e a LGBTQIA+fobia como parte de uma pandemia social que deve ser combatida com diálogo, políticas públicas que abriram espaços para corpos transvestigeneres em todas as esferas dos debates sociais, políticos e públicos.


sobre a autora:

Thi. Gresa é pessoa não binárie, performer, e professore de artes. Formade pela PUC e mestre pela UERJ. Pesquisa questões relacionadas à performance, gênero, estéticas dissidentes e dissonantes

contato: a.thigresa@gmail.com


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