por Debora Restum e Tatiane Mendes
Em tempos de pandemia é preciso - mais do que nunca- lutar para consolidar a cidadania e reafirmar o posicionamento massivo na defesa dos direitos humanos e no fortalecimento das redes coletivas de solidariedade.. A arte, nesse viés, se afirma como estratégia comunicacional e política, de resistência ao cenário de crescente conservadorismo, para pensar outros modos de vida possíveis, ocupar espaços, fortalecer vozes e representatividades. Nesta edição o LACCOPS BLOG traz artistas de múltiplas expressões que resistem e reexistem no cotidiano das cidades. Do grafite à poesia, do cinema à dança, os autores fomentam espaços de comunicação e afeto e trazem suas histórias e estratégias de reexistência coletiva que a arte potencializa pela circunstância de convocar o olhar sensível e crítico sobre o mundo e o convite ao ser em comum, para pensar estratégias possíveis que dialoguem com os movimentos sociais, sociedades e instituições em uma realidade cotidiana que se configura desafiadora e onde espaço e tempo se reconfiguram do toque digital das telas que nos conectam ao mundo,passando pelas formas de estar junto,nossas sensibilidades e afetos.
E enquanto o atual quadro do alastramento da contaminação por Covid-19 agrava os já terríveis números da desigualdade social, a realidade política permanece na contramão dos direitos humanos, ousando acrescentar - na perversa combinação de políticas de exclusão e massacre das populações mais vulneráveis - inúmeros desafios a vida.Nesse viés seria possível identificar na arte um espaço político para pensar mobilizações do coletivo, fortalecendo vinculações entre as pessoas?
No corpo das pessoas,no corpo da cidade as relações se estabelecem no contato direto,nexo que se cria no olhar para o outro, escuta que se quer coletiva na medida em que faz parte de um cotidiano de emoções compartilhadas, crenças, afetos e saberes. Nesse manancial de humanidades estão inseridas a arte e a ciência, pilares através dos quais o fazer comunicacional do LACCOPS se sustenta. À última cabe o lugar de processo fomentador de conhecimentos múltiplos, caminhos de interação entre sujeitos e realidades.
De igual modo, na arte reside o espaço da expressão humana, transcendência sim, mas igualmente resistência, lugar de escuta, encontro, conflito e de pensar outros mundos possíveis , potencializando a experiência humana no espaço e no tempo em seu caráter coletivo, fortalecendo cidadania e na defesa dos direitos humanos.
É desse lugar - em uma realidade atravessada por uma pandemia, profundamente desigual e incerta que a edição de junho/julho do blog LACCOPS constrói uma narrativa múltipla - a um só tempo crítica mas ousando pensando horizontes de possíveis - visando a proteção e a reexistência de vidas que se entrecruzam no fazer da arte como modo de viver e ser redes de solidariedade e poesia, cruzamentos que se fazem desde o primeiro texto,De autoria de Vivi Salles, poetisa e criadora do projeto Poesia de Esquina, .Navegações agorísticas de poesia fala sobre a narrativa poética como gesto de luta, real e cotidiana.Assim é o trabalho da autora na Cidade de Deus, através de projetos como o Poesia de Esquina, criado em 2011 para ser um espaço de escuta e produção de narrativas, falas e olhares para o mundo.Em 2019 o projeto virou livro, coletânea com 38 poetas, cujas produções Salles tangencia para pensar a importância da poesia em tempos difíceis, de desigualdade e luta, como a pandemia que nos acomete. Também de luta e poesia vive Marcia Raquel e Fatinha Lima, fundadoras do projetos Viaduto Literário e Favela Cineclube, respectivamente, ações que ocorrem no Morro da Providência. Em Arte e resistência na Providência:cinema e literatura, Raquel fala sobre a parceria com o LACCOPS, os espaços e a importância dos projetos para a Providência. Da mesma forma, a arte se pluraliza e passa pelo debate identitário,mecanismo de resistência frente a violências perpetradas no cotidiano. No texto de Thiago Fraga, Bicha,arte e resistência a arte tece potências políticas frente a uma sociedade heteronormativa que atravessa identidades e busca determinar orientações sexuais. Se a arte politiza e potencializa os modos de resistência, também atua frente ao racismo estrutural e misoginia.Esta é a temática do texto de Andressa Dantas.Em A cultura e arte preta sempre resistiram,a autora dialoga com a cultura hip-hop como modo de resistência e descoberta, bem como da criação - apesar de todas as dificuldades- do Grupo de Trabalho Emergencial Covid-19 que traçou estratégias para dialogar com o poder executivo e assim conseguir algum auxílio para a cultura de Macaé.
A edição de Junho/Julho do LACCOPS blog é concluída com a entrevista de Nelson Neto, poeta e Gleyser Ferreira, produtora cultural, ambos cineclubistas,idealizadores e organizadores do Cine Taquara, coletivo de arte que atua na Zona Oeste do Rio de Janeiro,privilegiando as potências do audiovisual e das culturas afro-brasileiras .
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