por Andrea Hecksher
Recém-chegada ao Laccops, grupo formado por pessoas apaixonantes e apaixonadas pela pesquisa e pelo fazer em comunicação comunitária e publicidade social, atraída pela mesma causa que move o grupo, espero poder agregar força aos debates e às ações, com minha experiência em pesquisa e direção de arte. À convite do grupo, em poucas palavras, tentarei definir direção de arte e o seu papel no contexto da comunicação e publicidade pretendida pelo Laccops.
A efetividade da Comunicação Visual é o objetivo do Diretor de Arte que, por meio de técnicas e teorias, programa visualmente a informação. De acordo com Strunk (2012), no âmbito da comunicação, “somos cada vez mais uma civilização visual”, submetidos diariamente a centenas de estímulos visuais, “um sem-número de estímulos que modificam nossa linguagem, comportamento, nossa cultura”. Em meio a uma enxurrada de mensagens e apelos visuais, o diretor de arte tem o desafio de atrair e dirigir os olhares para a informação. E onde está a arte? A arte está na emoção, na tensão, enfim, no sentimento que é transmitido, por meio de escolhas de elementos visuais, formas, cores e contrastes.
Há quase três décadas, Dondis já apontava para “o imperativo do alfabetismo visual” a partir do surgimento da câmera e de novas tecnologias que estavam sendo desenvolvidas. Atenta as questões estéticas e as transformações nas relações das artes visuais com a sociedade e a educação, manifestava preocupação com a compreensão e o uso da expressão visual dos adeptos do tecnicismo:
A linguagem é simplesmente um recurso de comunicação próprio do homem, que evoluiu desde sua forma auditiva, pura e primitiva, até a capacidade de ler e escrever. A mesma evolução deve ocorrer com todas as capacidades humanas envolvidas na pré-visualização, no planejamento, no desenho e na criação de objetos visuais, da simples fabricação de ferramentas e dos ofícios até a criação de símbolos, e, finalmente, à criação de imagens, no passado uma prerrogativa exclusiva do artista talentoso e instruído, mas hoje, graças às incríveis possibilidades da câmera, uma opção para qualquer pessoa interessada em aprender um reduzido número de regras mecânicas. Mas o que dizer do alfabetismo visual? Por si só, a reprodução mecânica do meio ambiente não constitui uma boa expressão visual. Para controlar o assombroso potencial da fotografia, se faz necessária uma sintaxe visual. (DONDIS, 1991,p. 3)
E é neste pensamento que o núcleo de Direção de Arte do Laccops pretende trabalhar, não só na produção, mas na análise de elementos constituintes da mensagem visual em diferentes mídias. Percepção, experimentação e criação visual. Estimular o engajamento dos envolvidos em dinâmicas voltadas à leitura crítica; os diálogos com as comunidades e representantes locais dos projetos em andamento; a análise das imagens/mensagens divulgadas pelos meios de comunicação, suas propagações e as motivações que levam ao compartilhamento; compreendendo, dessa forma, como tudo isso pode afetar o indivíduo, uma comunidade ou toda uma sociedade.
Por meio da AÊ!UFF (Agência de Publicidade Experimental UFF), seguindo o conceito de Publicidade Social desenvolvido no LACCOPS, orientaremos e trabalharemos junto a alunos de graduação para atender demandas de comunidades locais e projetos reais de pequeno porte, com pesquisa e produção de ponta sem custo para os clientes. Na prática laboratorial, promover uma aproximação da realidade profissional com a sala de aula, bem como possibilitar o desenvolvimento teórico e prático do aprendizado da criação de marcas, imagens, identidade visual, embalagens, materiais promocionais e campanhas publicitárias para mídias impressas e digitais.
Diante do cenário de instabilidade social, política e econômica em que vivemos, acredito que um bom caminho para o pensamento crítico e posicionamento do núcleo de Direção de Arte do Laccops seja o entendimento e a investigação do “artivismo”.
O artista ativista situa-se no interior de uma relação social, isto é, engendra uma esfera relacional fundada no desejo de luta, na responsabilidade ou na vocação social que reconhece a existência de conflitos a serem enfrentados de imediato. Portanto, torna-se fundamental no artivismo o reconhecimento do outro e também a crítica das condições que produzem a contemporaneidade. Neste forte envolvimento social, tem-se, assim, reduzida a autonomia da arte e, em contrapartida, amplia-se a relação entre ética e estética. (CHAIA, 2007, p.10)
Por fim, deixo aqui um convite a quem queira participar do nosso núcleo de Direção de Arte do Laccops, para que, a partir dos estudos e experimentações, possamos avançar no sentido de expor nossas subjetividades por meio das artes visuais, como forma de resistência e militância, em prol de causas nas quais acreditamos, sejam elas políticas, ecológicas ou sociais.
Comments