Por Patricia Saldanha, coordenadora geral do LACCOPS
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Publicidade Social como metodologia de transformação, tem alguma relação com tempos de isolamento? Num cenário caótico, em que mortes fogem aos controles estatísticos, por que pensar em juntar ideias antagônicas como a Publicidade e da Comunicação Comunitária? Qual o sentido deste tipo de reflexão em tempos de pandemia? O convite é para pensarmos conjuntamente sobre o cenário atual, seus desdobramentos e como podemos efetivamente contribuir com mudanças concretas nas vidas a partir da prática do nosso ofício: a Comunicação Publicitária.
A gripezinha, semelhante a um resfriado, virou COVID 19 (Corona Vírus Disease de 2019). A doença com alto grau de letalidade do século XXI veio com tudo e atingiu todos os corpos do planeta. Sem livrar ninguém nem abonar por faixa etária, religião, nacionalidade ou classe social, a cepa do novo coronavírus (2019-nCoV) vem passando por constantes mutações e agindo, de forma cada vez mais agressiva, na saúde física da humanidade, em função da rapidez de sua proliferação. Nessa conjuntura, dois pontos ganharam destaque: a fragilidade das estruturas de saúde públicas e privadas preteridas aos interesses econômicos em toda extensão do globo; e a constatação de como os investimentos em desinformação e “descientização” foram tão nocivos ao planeta.
Entramos na segunda onda da doença, a curva não parou de subir e ficar em casa passou a ser atitude que garante a preservação da vida. Enquanto a grande mídia divulga boletins científicos de um lado e narrativas de saúde versus economia do outro, instituições mundiais do porte da OMS (Organização Mundial da Saúde) e da ONU (Organização das Nações Unidas) se preocupam com as consequências sociais, com os efeitos dos desequilíbrios ligados à saúde mental e com as sequelas econômicas anunciadas. Na mesma linha de tais instituições, a Publicidade Social propõe técnicas comunicativas de combate ao inimigo comum e ao quadro que está por vir. A ideia é publicizar a informação que realmente passou a ser prioritária e que nada tem a ver com o consumo de marcas globais. Se hoje em dia é elementar divulgar ações voltadas para prevenção do espalhamento do novo coronavírus, a exemplo da produção de máscaras caseiras; também é crucial pensar em ações voltadas para a recuperação das localidades mais pobres atingidas social, economica e ambientalmente no período endêmico.
Os impactos sociais e ambientais são a base da Agenda 2030 da ONU, estruturada em 17 ODS's (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), distribuídas em 196 metas que visam erradicar a “pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema” (ONU, 2020). O fato é, sem COVID19 a situação não muda, com ela, se agrava. Voltando à reflexão, a Publicidade Social está emaranhada nos tempos em que todos os diálogos são atravessados por termos e expressões como: coronavírus, álcool em gel, distanciamento social, Covid19, isolamento, # fique em casa, lave as mãos, use máscara, etc. A avalanche afetou os arranjos familiares e sociais, os ambientes de trabalho e a relação com o consumo de coisas e de informação. Aí entra a Publicidade Social. De acordo com as experiências e projetos do LACCOPS, para que a Publicidade Social aconteça, é necessária a participação de comunidades e indivíduos que compõem a Sociedade Civil. Se compartimos um tempo em que o vírus se tornou um inimigo único, a força de combate também deve se unificar em prol da causa que é comum a todos: a sobrevivência.
Nesse sentido, a Publicidade Social que desenvolvemos na UFF é inclusiva, democrática e abomina qualquer tipo de apelo emocional com fins assistencialistas. Nada tem a ver com a prática disseminadora das corporações transnacionais que usa temáticas comunitárias embrulhadas na embalagem da Responsabilidade Social, para melhorar a reputação de suas marcas. Nas palavras da juventude antenada do nosso grupo de pesquisa, a Publicidade Social aqui “é outro rolê”!!! É feita pela, para e na própria comunidade, com objetivo de criar soluções exequíveis para cuidar de questões cotidianas das localidades, dos coletivos e dos grupos que começaram a se organizar de maneiras alternativas. Nossa participação, enquanto “agentes externos” é de parceria colaborativa.
Portanto, o conceito de Comunidade não pode continuar a ser visto como “mero convivialismo num território, mas como o compartilhamento (ou uma troca), relativo a uma tarefa, implícito na obrigação simbólica que se tem para com o Outro.” (PAIVA, LACERDA, SALDANHA, 2014). A comunidade passou a ser entendida tanto como o convívio num território físico, ou lugar, como também é compreendida enquanto grupo que comunga da mesma fé religiosa, ideologia política ou de um sentimento, como o medo em tempos de COVID19, por exemplo. Mesmo o entendimento de lugar passou a ser ampliado pois, os encontros acontecem “na rua,[...], na fazenda, numa casinha de sapê”, assim como no Facebook, no Whatsapp e, recentemente, no “Zoom” ou no "Google Meeting".
A inovação das linguagens, dos formatos e das diversas estéticas que decidiram não seguir o padrão de qualidade imposto pelo mercado, mudaram a maneira de manifestar os interesses. Por isso, é urgente que a Publicidade Social resgate seu caráter originário de “tornar algo público para o espaço social” e não seja reduzida a um fim difusionista, mas que seja compreendida como um processo constituído de etapas e criação de métodos que visem a transformação, por isso, uma metodologia para transformação. Por exemplo, estimular o aquecimento da economia local através do incentivo do consumo das produções de quem está ali pertinho, pode ser uma saída da condição de passividade, que depende da atuação da Sociedade Civil na causa que passou a ser comum a todos.
O cenário exige envolvimento do cidadão para acionar uma solidariedade política, cuja estratégia é a valorização humanitária. Esta é a essência da Publicidade Social investigada e praticada na UFF. Para nós, os usos das tecnologias tanto promovem encontros que aliviam a solidão, como tornam públicas as informações sobre vacinas para idosos ou facilitam o incremento de alternativas para as comunidades em situação de vulnerabilidade. Trata-se de uma pedagogia que inclui, engaja e pensa coletivamente na resolução de questões, através de táticas publicitárias de baixo custo. Vale doação, abaixo-assinados, trabalho voluntário, organização de crowdfunding's, guerrilhas (flashmobs, cineclubes, artivismo), peças gráficas inovadoras, produções fotográficas e audiovisuais compartilhadas em meios alternativos, eventos culturais como batalhas de rap, passinho ou Slam e tantas outras. Por fim, “#tamo junto” na partilha dos sentimentos, na conquista dos resultados sociais e financeiros e na superação de obstáculos com a amenização dos problemas reais das tantas campanhas que vamos planejar e realizar num breve futuro Pós-Covid19.
Excelentes trabalhos
Muito bom...
Parabéns!👏👏👏👏
Parabéns por oferecerem esta troca! Sabemos que a sociedade civil e os grupos de organização comunitária são quem fazem os movimentos acontecerem, principalmente para aqueles que não dispõem de acesso a informação. Assim, é de extrema importância que essas frentes se fortaleçam entre si, pois o resultado é o apoio a todos nós.
Reflexão importantíssima! E muito necessária para enxergar novos caminhos. Sigamos! Parabéns à toda a equipe do Laccops!
Excelente iniciativa poder pensar a comunidade em tempos de pandemia. Muito importante o apoio às economias locais e a reflexão sobre os conceitos da Agenda da ONU 2030. O compartilhamento dessas vidas, que apresentam situações de grande diversidade e lutas, só enriquece nossa coletividade e nosso imaginário como nação brasileira. Parabéns Patrícia!