O LACCOPS e a Educação

Pablo Nabarrete

Escrevo essas breves linhas para atender ao desafio colocado pela equipe do LACCOPS de falar um pouco em nosso blog sobre a pedagogia do nosso querido Laboratório. O primeiro movimento fundamental para entrarmos nesse assunto é entender o lugar do LACCOPS na universidade pública e a maneira como o Laboratório contribui para que a universidade exerça sua função social. A razão de ser da universidade está baseada no tripé Ensino, Pesquisa e Extensão, cujo princípio de indissociabilidade está descrito no artigo 207 da Constituição Federal de 1988, que ficou conhecida como “Constituição Cidadã”. De maneira simples, isso quer dizer que Ensino, Pesquisa e Extensão são complementares e devem ser tratados com o mesmo valor para que a universidade tenha sentido para a sociedade.

Em linhas gerais, a pesquisa envolve o trabalho dos pesquisadores na produção de conhecimento. Em diferentes áreas, projetos contribuem para o desenvolvimento científico, tecnológico e social. O que resulta em artigos, livros, produtos etc. O celular, notebook ou computador em que você lê este texto só está aí porque diferentes pesquisas científicas possibilitaram seu desenvolvimento. O ensino é o momento de reprodução deste conhecimento em espaços formais de educação, as escolas em diferentes níveis, e também informais, como cursos que são desenvolvidos por movimentos sociais. E a extensão são ações desenvolvidas pela universidade para retribuir mais diretamente à sociedade todo o investimento que é feito para a sua existência, por exemplo: cursos, atendimentos médicos, oficinas para professores e estudantes de escolas públicas, eventos diversos, parcerias público-privadas etc. Embora o LACCOPS atue em ensino, pesquisa e extensão de maneira complementar, seu foco principal está na pesquisa, na investigação sobre comunicação comunitária e publicidade social.

Certificado desde 2014 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o Cnpq, entidade pública responsável pelo incentivo à pesquisa no Brasil, o LACCOPS reúne professores do Departamento de Comunicação Social da UFF, estudantes e egressos da graduação e da pós-graduação do Programa de Pós-graduação em Mídia e Cotidiano da UFF. Dessa maneira, mesmo neste momento de isolamento social devido ao Covid-19, o LACCOPS segue se reunindo virtualmente e produzindo pesquisa coletivamente.

Na segunda e última parte deste texto, vou abordar alguns fundamentos ético-científicos fundamentais para a pedagogia do LACCOPS. E é impossível abordar este tema sem valorizar o grande educador, patrono da educação brasileira, Paulo Freire. Seria cômico, se não fosse trágico, ver Paulo Freire sendo associado a suposta “doutrinação marxista”. Doutrinação e pedagogia freireana são coisas que não se misturam, são excludentes, como óleo e água. Em uma passagem do livro Extensão ou Comunicação, que o educador brasileiro escreveu no período da ditadura civil-militar no Brasil, quando estava exilado no Chile, Freire afirma que “a educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é a transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados”.

Com a consciência pedagógica de que a leitura do mundo precede a leitura da palavra, para o educador brasileiro, todos somos sujeitos com histórias, experiências, com capacidade para a fala e o pensamento crítico, que não há e nem pode haver hierarquia em uma relação dialógica que fundamenta o ato pedagógico-comunicativo. Paulo Freire é tão importante para nós que, em votação popular realizada durante o evento Mobilize-se de 2018, a recém criada mascote do LACCOPS, um pássaro Quero-quero, recebeu o nome Paulinho, em homenagem ao grande educador brasileiro. O pássaro valente, característico da América do Sul, representa também a importância das teorias da cultura e da comunicação latino-americanas nas pesquisas e na pedagogia do LACCOPS.

Outro autor fundamental para nossa reflexão é Antonio Gramsci, alvo número um das críticas ao inexistente “marxismo cultural”. Também seria cômico, se não fosse trágico. O filósofo italiano nos diz que a construção de sentido de um filósofo, e para Gramsci todos somos filósofos, vai se dar na “relação ativa” com o ambiente cultural que se quer transformar, que age sobre o filósofo como “professor”. Essa reflexão orienta nossa pedagogia em algumas direções. No plano da autorreflexão como educadores sobre o olhar para o conjunto das relações sociais nas quais estamos inseridos. Dessa maneira, a sociedade que nos cerca, as contradições históricas, as pessoas e territórios marginalizados, explorados e expropriados precisam ser objeto do nosso conhecimento e dos processos de ensino-aprendizagem que formarão novos comunicadores sociais. E, mais importante, tanto os estudantes como as pessoas dos projetos sociais com os quais trabalhamos são intelectuais com capacidade para o diálogo e a crítica geradores de novos sentidos. E nosso grande desafio é conseguir construir junto a nossos interlocutores, estudantes e agentes sociais das favelas, coletivos e movimentos com quem trabalhamos, essas pontes de diálogos criativos, construtivos e transformadores para todas e todos. Espero ter contribuído com o debate e logo estaremos juntos para trocarmos afetos, ideias e abraços.

Para saber mais sobre a pedagogia do LACCOPS, ver BASTOS, Pablo Nabarrete; SALDANHA, Patrícia Gonçalves. A publicidade social sobe e desce o morro: a pesquisa do LACCOPS (Laboratório de Investigação em Comunicação Comunitária e Publicidade Social) aplicada ao projeto pedagógico da AÊ!UFF (Agência Experimental da UFF). Comunicação & Inovação, PPGCOM/USCS. v.19, n. 41 [1-17] set-dez 2018.

Para saber mais sobre a pedagogia do LACCOPS, ver BASTOS, Pablo Nabarrete; SALDANHA, Patrícia Gonçalves. A publicidade social sobe e desce o morro: a pesquisa do LACCOPS (Laboratório de Investigação em Comunicação Comunitária e Publicidade Social) aplicada ao projeto pedagógico da AÊ!UFF (Agência Experimental da UFF). Comunicação & Inovação, PPGCOM/USCS. v.19, n. 41 [1-17] set-dez 2018.